'Virei outra pessoa', diz cantora que saiu do crack com Ibogaína
'Virei outra pessoa', diz cantora que saiu do crack com ibogaína
FERNANDA MENA FOLHA DE S.PAULO 25/10/2014 02h00
Há um ano e meio, a cantora Clarice Seabra, 55, conheceu a ibogaína por meio de suas irmãs, que buscavam ajudá-la a superar a dependência de crack, o abuso de álcool, maconha e cocaína e uma bateria de 12 internações em 35 anos.
"Eu estava pesando 49 quilos, tinha perdido todo o meu cabelo e alguns dentes. Tinha uma incapacidade total de sentir amor, medo, qualquer coisa.
Quando cheguei à clínica –mais uma–, não achei que seria diferente das outras. Era violenta e brava.
Fiz uma longa entrevista, fiquei 24 horas abstinente e me preparei para o primeiro dia de tratamento com a ibogaína.
Deitada numa maca, tomei quatro comprimidos de iboga e fiquei em silêncio. Mas logo achei que aquilo era charlatanismo e comecei a gritar: 'Eu não estou sentindo nada!'.
O terapeuta perguntou: 'Você veio aqui para sentir um barato ou para se tratar?'. É verdade, estava ali para me tratar.
Aos poucos, comecei a ver, no teto, um filme da minha vida. Assisti àquilo que a droga havia feito comigo e o que ainda poderia fazer. Me vi deitada numa linha de trem toda machucada, sem cabelos e sem dentes e com muito medo. Apareceu um louva-a-deus gigante que queria me tirar da linha do trem, mas eu tinha medo e não queria sair dali.
Os movimentos das minhas mãos eram desconstruídos, quadro a quadro, em sombras prateadas e brancas. Jesus entrou na sala e conversei com ele.
Eu estava monitorada o tempo todo: pressão, batimentos cardíacos etc. Vomitei muito e depois senti muita vontade de comer doces. Fiz cinco aplicações de iboga, mas após a primeira eu já não sentia vontade de usar crack.
Virei outra pessoa. Fiquei mansa, alegre, humilde. Voltei a ser a garota de 19 anos que nunca havia usado nenhuma droga."